Metal Pesado, poema de Davis Sena Filho
Chove.
Os pingos iluminados pelas luzes dos postes
dão idéia de uma cega transparência, de uma
intraduzível e camaleônica transparência.
Caem no chão num tilintar surdo, e umedecem
o asfalto carcomido pelos pneus dos carros.
Chove.
Os meus olhos já poluídos pelo século XX
explodem num furor bárbaro toda sua indignação
perante o aço cósmico da metrópole.
Chove.
As lágrimas correm como lava vulcânica
pela minha face, queimando o que resta
de esperança na minha alma.
E não há um poste estúpido para
iluminá-las com sua luz.