Fernando Henrique Cardoso apareceu na Suíça para dizer, em entrevista na segunda-feira, que o país não tem estatura para discutir a paz no mundo. “No Oriente Médio, temos de falar de direitos humanos”, argumentou. Ou seja, para ele, não podemos ter pontos de vista sobre assuntos internacionais. Tem que seguir a cartilha de Washington. “Não pode ficar pensando no Brasil potência”, reclamou.
Ele fez coro com a direita americana e disse que “nós opinamos um pouco demais”, numa referência ao acordo para que o Irã aceitasse enriquecer seu urânio na Turquia. Para FHC, o Brasil não pode se meter nisso. Tem que ficar calado, dizer “sim senhor” para tudo e os seus ministros têm que seguir tirando os sapatos nos aeroportos, como fez um ministro na sua gestão. “Não temos alavancagem para jogar aquele jogo”, sentenciou. Enfim, essas idéias que FHC destampou diretamente das montanhas do mais tradicional paraíso fiscal da Europa sintetizam o que o presidente Lula muito bem caracterizava como um “complexo de vira-lata”.
COMENTÁRIO DO DAVIS
Fernando Henrique é a mais completa evidência e exemplo da elite brasileira de cabeça colonizada e com um enorme e inquestionável e inquebrantável complexo de vira-lata. Ele, se fosse um cão, seria um poodle, canídeo que serve de companhia e estimação, mas que não serve para defender o território onde vive, porque não passa, na língua espanhola, de um "perro de lana", que significa "cão de lã", muito "chiquérrimo", como dizem as madames, mas que não mede conseqüências para servir e obedecer aos interesses dos países considerados ricos como um verdadeiro amouco — o famoso pau mandado. FHC é o dândi em toda sua natureza e a superficialidade intelectual em toda sua essência. Ele é a pantomima de si mesmo e a ilusão mais cara à nossa "elite" econômica e cultural servil que não percebe que o Brasil é forte e independente e que seu povo é puro luxo, por ser infinitamente melhor do que ela.
Enfim, o FHC não passa de um gato angorá a calçar botas e polainas, bem como o mais legítimo, ratifico, perro de lana que conheci na vida. Seu chanceler, ministro do Itamaraty, Celso Lafer (autêntico representante da diplomacia de punhos de renda), tirou os sapatos em um aeroporto dos EUA, a mando de um subalterníssimo agente federal daquele País. Lafer, bem como Luiz Felipe Lampréia, homens de punhos de renda e especialistas de prateleira da Globo News para atacar a diplomacia independente atual, efetivaram uma política diplomática para atender aos interesses do Departamento de Estado dos EUA, voltada também para a União Européia e afastada dos países africanos, árabes, asiáticos e sulamericanos. Lula fez o contrário. Com o fortalecimento e a ampliação do Mercosul, o Brasil rejeitou a Alca (que é um retumbante fracasso) e liderou a integração da América do Sul, que, por intermédio de seus mercados, conseguiu escapar da crise mundial de 2008, aquela que o Lula chamou de marolinha e que deixou a imprensa de mercado, neoliberal e comercial — que detesta o Brasil e seu povo — furiosa, a babar uma baba bovina por meio de suas manchetes manipuladoras e de seu jornalismo de esgoto. A China passou a ser a maior parceira. A África entrou na agenda do Brasil, e os negócios com os árabes e sulamericanos foram espetacularmente aumentados. O mercado interno brasileiro ficou muito mais robusto, o governo federal concedeu isenção de taxas e impostos e o consumo cresceu "como nunca antes neste País".
Dessa forma, com a inteligência, a responsabilidade e a competência de técnicos e administradores brasileiros, o Brasil não sentiu a crise dos países ricos e mostrou à comunidade internacional que é forte, soberano e independente. Lula foi protagonista da criação do G-20, que hoje é mais poderoso que o G-7 + Rússia, além do Bric (Brasil-Rússia-Índia-China). Esses países redesenharam o poder internacional, tanto no que tange à economia quanto ao que é concernente à geopolítica, no que é de direito do Brasil e de seus parceiros quanto ao assumir uma cadeira no Conselho de Segurança da ONU. Os EUA, com sua diplomacia do porrete, não resolve questão internacional alguma, ainda mais quando se trata de conflitos seculares e até milenares entre os povos. Os EUA e a União Européia têm de resolver a lama das guerras em que se envolveram, o derretimento de seus sistemas bancário e imobiliário, além da pobreza de grande parcela de suas populações. Aliás, a pobreza que campeia no país yankee é amenizada e escondida pela imprensa privada (privada nos dois sentidos, tá?). O Jornal Nacional da TV Globo nunca mostra e nunca mostrará. Mas quando se trata da Rússia, da China, da Venezuela, Cuba, enfim...
Contudo, voltemos ao "admirável" Vendendo Henrique Cardoso — o famoso VHC.
Fernando Henrique, para mim, deveria estar preso, como foram trancafiados muitos dos neoliberais da América do Sul, como o argentino Carlos Menem, o peruano Alberto Fujimori e o mexicano Carlos Salinas de Gortari, que escapou de ser encarcerado porque fugiu para os EUA. Salinas, além de vender estatais mexicanas, foi acusado de ser narcotraficante e por causa disso fugiu. O Uruguai também teve seus neoliberais, os entreguistas Julio Maria Sanguinetti e Luís Alberto Lacalle, que tentaram diminuir o estado uruguaio, um país com apenas quatro milhões de habitantes e praticamente rural, o que é um absurdo. A Colômbia, cujos últimos cinco presidentes pertencem ao espectro político de direita, alguns de perfil mezzo fascista como o Uribe, tornou-se a porta-voz da política externa estadunidense na América do Sul. Os presidentes César Gaviria Trujillo, Ernesto Samper Pizano, Andrés Pastrana Arango, Álvaro Uribe Vélez e o recém-eleito Juan Manuel Santos Calderón abraçaram o neoliberalismo e garantiram à política externa norte-americana (a política do porrete) uma base em defesa do capitalismo de mercado, desregulamentado e com a presença mínima do estado, sem contar com a guerra de guerrilha e as organizações paramilitares de direita, acusadas de extermínio pelos fóruns internacionais de direitos humanos.
Não podemos esquecer o Chile, país-laboratório para as teses neoliberais em âmbito mundial, mais de dez anos antes do Consenso de Washington de 1989. O ditador Augusto Pinochet e seus Chicagos Boys (economistas chilenos formados pela PUC chilena da equipe de Pinochet que depois estudaram na Universidade de Chicago) criaram e implementaram teses de enxugamento das máquinas de estado e apoio irrestrito à iniciativa privada, sem, contudo, efetivar a regulamentação dos diversos segmentos da economia, liberdade exagerada para a remessa de lucros, valorização em demasia das exportações e o não fortalecimento do mercado interno e do setor público que, geralmente, fomentam a economia dos países e atendem a população pobre. O estado menor e a autoregulamentação do sistema capitalista eram a religião a ser seguida no nosso planeta. E ai de quem fosse contra! Coitado! Era logo taxado de "dinossauro" ou de "voz do atraso" pelo nossa "culta", "inteligente" e "sábia" academia conservadora universitária com o apoio irrestrito da pior, da mais corrupta e a mais mentirosa imprensa do mundo — a imprensa brasileira. Anos depois Margareth Tatcher, aquela flor do fáscio também chamada de dama de ferro, adotou o neoliberalismo na Inglaterra e deu no que deu: a partir de 1989 o mundo passou a ter uma nova doutrina econômica, com o apoio irrestrito dos EUA (leia-se Ronald Reagan), que quase acabou com os países africanos, asiáticos e latinos americanos (falência dos estados nacionais, miséria e fome).
O Chile continuou a se imolar a toque de caixa, até perceber que a pobreza no país andino estava a aumentar, e muito. Como o povo não é enganado a vida inteira, tratou de eleger a socialista moderada Michelle Bachelet. O Chile melhorou, e como. O mesmo ocorreu com a Venezuela, que elegeu o socialista puro-sangue, Hugo Chávez, que tirou da elite branca de origem espanhola o controle secular do petróleo. Por causa disso, Chávez é endemonizado pela imprensa capitalista do mundo inteiro, e, como não deveria deixar de ser, pela imprensa privada (privada nos dois sentidos, tá?) brasileira. O neoliberalismo foi, irremediavelmente, derrotado. No Brasil, Lula foi eleito duas vezes e a Dilma dará continuidade à distribuição de renda e de riqueza, bem como às estratégias de nossa política internacional colocadas em prática até agora. Só quem não vê isso é quem não enxerga o óbvio ou a Míriam Leitão, o Alexandre Garcia, o Willian Wack, o Carlos Alberto Sardenberg e muitos e muitos e muitos outros jornalistas de confiança dos barões da imprensa, que, historicamente, são golpistas e não têm nenhum compromisso com o Brasil. Sobre isto não há dúvidas.
O FMI, o Bird e o FED, braços da hegemonia dos países ricos, transformaram-se em órgãos que simplesmente determinavam o que os governantes eleitos pelos seus povos deveriam fazer. Foram vinte anos dessa pouca vergonha, dessa desfaçatez, dessa traição, até que, a partir do início da primeira década deste século, candidatos a presidente de esquerda passaram a vencer as eleições, tanto na América do Sul quanto na América Central, além de alguns países africanos e asiáticos. Em 2008, veio a crise do neoliberalismo na Europa e nos EUA e Japão e o capitalismo derreteu como gêlo no asfalto quente. Segundo especialistas, a crise é maior que a crise de 1929. Tomara que seja, porque fiquei por muito tempo farto e de saco cheio dessa imprensa brasileira corrupta e de mercado e comercial e privada (privada nos dois sentidos, tá?) que apoiou essa pilantragem toda ao afirmar, de forma contínua e persistente, que o mercado é a solução e que ele se autoregula. Seria cômico se não fosse trágico. Quando é que empresários tubarões e não tubarões (lambaris) vão abrir mão do lucro e de viver como nababos ou paxás. O estado tem de estar presente, e o povo tem de parar de votar em político de direita. Ao que parece, parou.
Abraço aos amigos,
Davis.